quinta-feira, 21 de maio de 2020

TEMPO CINZA 6

Ontem o menino de 14 anos João Pedro Mattos foi assassinado pela PM do Rio.

No mesmo dia em que morreram de uma só vez quase 1200 brasileiros.

No mesmo dia em que o maldito presidente faz piada.

Meu abraço distante e minha solidariedade à família de João Pedro Mattos.

Obra: MÃE COM O FILHO MORTO, Käthe Kollwitz, 1903

TEMPO CINZA 5

Uma morte a cada 73 segundos...
Uma morte a cada 73 segundos...
Uma morte a cada 73 segundos...
Uma morte a cada 73 segundos...
a cada 73 segundos...

Passamos dos mil mortos em 24 horas...

Obra: TRISTEZA, Paul Cézanne, 1867

TEMPO CINZA 4

Quando eu era criança, gostava das histórias que meu pai contava. Eram histórias do sertão, do povo do sertão, de um Brasil que ainda existe lá no fundão do Brasil. Uma delas, que nunca esqueci, foi a de um cachorro. Seu dono, parente de meu pai, havia morrido e sido enterrado num cemitério desses que nem muro têm, como a gente ainda vê no interior do país. Enterrado a sete palmos, com uma cruz de madeira e talvez alguma coroa de flores, naturais ou não. O cãozinho permaneceu vivendo na mesma casa, que também era sua, com os outros da família. Mas seu lado era junto do companheiro morto, e todas as noites e até o fim de sua pequena vida - disse meu pai - o cachorrinho seguia seu caminho até o cemitério e dormia a noite inteira sobre a cova de seu dono.

Então em homenagem aos animaizinhos que nesta pandemia estão ficando sós, vai esta pintura.

Obra: O LAMENTO DO CÃO PASTOR, Edwin Landseer, 1837

TEMPO CINZA 3

Hoje, domingo, amanhecemos oficialmente com mais de 15 mil mortos por Covid-19 no Brasil. Quinze mil mortos! Quinze mil vidas se foram em poucas semanas! Num país cujo presidente brinca com a morte, como um fascista!
Obra: NO LEITO DE MORTE, Edvard Munch, 1893


TEMPO CINZA 2

A pintura escolhida para hoje:
OS RETIRANTES, Candido Portinari, 1944
E com ela um pequeno trecho de outro grandemente triste retrato do povo brasileiro, de Vidas Secas, de Graciliano Ramos:
"Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. (...) Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala. Arrastaram-se para lá, devagar (...)
Os infelizes brasileiros de sempre, historicamente os mesmos, que já vão nascendo "com cara de fome", estampados na arte de Portinari e Graciliano. E de Chico e de Caetano. Pobres, trabalhadores, favelados, pingentes, faxineiras, paus de arara, pedreiros, balconistas, boias-frias, índios e mulatos, malandros e bandidos, banidos quase todos, "quase todos pretos", aguardam cada qual seu momento de morte física, pois que há muito vivem como mortos para certa elite, certa classe média, certa gente escrota e vil.
Gente escrota e vil que elegeu um monstro, o Inominável genocida, assassino explícito, Ceifador maior de toda a nossa gente.