Nu feminino, desenho de Alonso Cano, 15 x 16 cm |
Alonso Cano |
Seus pais resolveram, então, se mudar para Sevilha, por volta de 1614. Logo, o menino Alonso, que tinha então 13 anos, entrou para o ateliê de Francisco Pacheco, o mesmo mestre de Diego Velázquez. Os dois, Velázquez e Cano, se tornaram grandes amigos, amizade que durou até o fim de suas vidas. Alonso também estudou escultura com o mestre Juan Martínez Montañés, que lhe havia sido apresentado por Pacheco.
Em 1626, Alonso Cano recebeu o título de mestre-pintor. Ele já havia pintado um dos seus primeiros quadros, que pude ver em Sevilha, em minha viagem. A tela intitulada “São Francisco de Borja” é uma pintura de sua fase de jovem aprendiz.
Cópia de um autorretrato perdido, óleo sobre tela, 72 x 67 cm, Museu de Cádiz, Espanha |
Alonso Cano se relacionou também, além de seus colegas artistas como Pacheco, Martínez Montañés, Velázquez e Zurbarán, com grandes figuras do mundo intelectual de seu tempo. Em sua biblioteca podia-se encontrar obras de autores espanhois como os poetas Luiz de Góngora e Francisco Quevedo, fazendo com que sua arte fosse alimentada com as mais diversas fontes.
Nas décadas de 1620 e 1630 ele se dedicou à escultura e à construção e montagem de retábulos, muito mais do que à pintura. Mas presidiu, em 1630, o Grêmio de Pintores de Sevilha, uma prova de que gozava de grande prestígio entre os colegas.
"A virgem e o menino", Alonso Cano, óleo sobre tela, 162 x 107 cm |
Em Madrid, o estilo “tenebrista”, pintura que foi influenciada pelo italiano Caravaggio e que caracterizava a pintura sevilhana, foi sendo abandonado por ele. Quando trabalhou como restaurador dos quadros que foram prejudicados com o incêndio no palácio do Bom Retiro, em 1640, Alonso Cano foi assimilando as técnicas pictóricas flamenga e italiana. Se deixou influenciar especialmente pelos pintores venezianos do século XVI e, do lado dos pintores flamengos, pela pintura de Van Dyck.
Em 1639 recebeu a encomenda de pintar 16 retratos de reis medievais espanhois, que ele deveria fazer de forma imaginária. Quase todos os quadros foram destruídos no incêndio de 1734, que aconteceu no Alcázar de Madrid, com exceção de dois: “Um rei da Espanha” e “Dois reis da Espanha”, que se encontram no Museu do Prado. Nestes dois quadros pode ser comprovado seu interesse pelos efeitos da cor e da transparência, que ele admirava em Van Dyck.
"São Francisco de Borja", pintura feita em sua juventude |
Em Madrid até 1652, ele produziu de forma intensa numerosas obras. Sua pincelada estava mais solta e ele continuava usando o esquema de veladuras dos venezianos e a luminosidade de Van Dyck. Todas as pinturas deste período, avaliam os especialistas, foram executadas com maestria por Alonso Cano.
Em 1652, resolveu voltar para sua cidade natal, Granada. Tornou-se, por influência do rei Felipe IV, o mestre-pintor da catedral daquela cidade, que eu também pude conhecer neste último mês de maio. Cano fez uma série de pinturas com temas em Maria, mãe de Jesus, para a capela maior da catedral e uma “Virgem do Rosário” para a catedral de Málaga. Naquele tempo, os pintores viviam basicamente de pinturas religiosas ou de pinturas da aristocracia. Era a forma de sobreviver e tinham sorte aqueles que o conseguiam. Mas a convivência de Alonso Cano com os clérigos da catedral era péssima, pois ele se negava a seguir os parâmetros que eles lhe queriam impor.
Um de seus desenhos de arquitetura |
Teimoso, irritadiço e extravagante, não tinha muita paciência no trato com as pessoas. Nunca perdoava uma ofensa feita. Por exemplo: certa vez um Ouvidor disputava com ele o preço de uma escultura que lhe havia encomendado, dizendo que escultores ganhavam mais que ouvidores. Cano irritado responde que os Ouvidores são como poeira e dá um empurrão na estátua, que cai em pedaços.
Por outro lado, dizem seu biógrafos, este homem tão implacável e tão duro se comovia com a miséria e sempre estava ajudando e socorrendo aos pobres, dando generosas esmolas aos mendigos que encontrava pelas ruas das cidades por onde passou.
No período em Granada, Alonso Cano fez as que são consideradas suas obras mais comoventes.
Entre 1657 e 1660 voltou a Madrid, onde pintou “São Bento e a visão do globo e os três anjos” e “São Bernardo e a Virgem”.
Voltando a Granada, sua relação com o poder eclesiástico ia de mal a pior. Ele já estava velho e doente. Mesmo assim foi desalojado de seu ateliê na torre da catedral.
Sua obra, muito grande e variada, hoje se encontra dispersa em vários lugares e muitas delas mal-conservadas. Ao longo do tempo, incêndios, guerras, saques e roubos atingiram grande parte de seu legado, tão rico e tão variado, uma vez que ele pintava e esculpia, além de ter criado obras relevantes de arquitetura. Alonso Cano preencheu Granada, Málaga e Sevilha de obras e monumentos de alto nível em todas as técnicas que dominava: pintura, escultura e arquitetura.
Morreu em 3 de outubro de 1667 e seus restos mortais foram enterrados na Catedral de Granada.
São Francisco de Assis e a Porciúncula, Alonso Cano, 1659, 300 x 273cm |
"São Bernardo e a Virgem", Alonso Cano, Museu do Prado, 185 x 267 cm |
"Um rei espanhol", Alonso Cano |