O mais novo projeto de arte conceitual não poderia ser mais coerente com seu próprio umbigo. Foi criado em Manhattan, EUA, um “Museu” (pasme-se!) de Arte Invisível! E não é brincadeira! O MONA ( Museum on Non-Visible Art) “apresenta” (a quem quiser arriscar de pagar esse mico) uma série de “obras” que não existem e só podem ser imaginadas quando o visitante lê o texto onde o “artista” descreve sua “obra”.
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| Acredite: dentro desta moldura tem uma obra de arte! Tenha fé! |
Nesses arrazoados espalhados em espaços vazios pode-se ler que aquilo que não está lá e nem existe é uma escultura ou uma imagem qualquer. O corajoso visitante desse “Museu”,ao ler o texto, imagina que ideia estaria por ali, num “espaço” que deve pertencer ao mundo dos espíritos. Vejam que para este tipo de arte, até mesmo a psicografia já está superada! Nem o espírito de Van Gogh precisa mais “baixar” num médium de pincel na mão. Neste “museu”, tudo só é possível de existir na mente do incauto visitante…
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Nem Marcel Duchamp seria capaz
de imaginar uma Fonte invisível! |
Parece muito ridículo? Pois tem gente que acha que não! Algumas pessoas gostam tanto da imagem que suas mentes produziram que COMPRAM isso! Uma abastada senhora “investiu” nessa asneira a cifra de U$ 10.000,00!
Quem teve a brilhante ideia de criar esse “museu” foi um ator chamado James Franco, porque queria elevar a arte conceitual a um patamar mais alto (ou o que isso queira dizer). Ou ele é a reencarnação de Marcel Duchamp – o rei da arte conceitual – ou nem Marcel Duchamp seria capaz de ir tão longe e ganhar dinheiro com… nada!
Pois é, mas o comprador das subjetividades do “museu” recebe um “certificado de autenticidade” e isso lhe transfere a propriedade sobre a “criação”, mesmo que ela não exista! (nunca usei tantas aspas e pontos de exclamação antes!) E o que o comprador leva para casa, além do certificado? Uma arenga escrita sobre a “grande ideia” do “artista” e uma moldura sem nada dentro. Então emoldura o que? Nada, meu amigo!
Mas essa iludida senhora, que tem por nome Aimee Davidson, é uma “produtora de novas mídias”. Vejam o que ela disse sobre sua compra:
“Como produtora de novas mídias, me identifiquei com a ideologia do projeto e fui particularmente inspirada na frase “Nós trocamos ideias e sonhos como moeda na Nova Economia”. Os meios de comunicação social, que são parte integrante da ”Nova Economia” da Internet, pós Web 2.0, revolucionou o modo como artistas criam, promovem e vendem as suas obras de arte. Senti que o ato de comprar “ar fresco” apoiou a minha tese sobre um conceito que denomino de “você-commerce”, que é o marketing e a monetização da própria persona, habilidades e produtos através do uso das mídias sociais e das plataformas de auto-difusão, como o uso da plataforma de financiamento público para financiar o Museu de Arte Não-Visível. Basicamente, eu queria colocar meu dinheiro onde minha boca está.”
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Só para os desavisados:
isto daqui é uma obra de arte! |
Entenderam?
Nem eu.
Mas o próprio “museu” explica…
“Como essas obras de arte invisíveis são compradas, trocadas e revendidas, elas abrem os nossos olhos para o universo invisível que existe em cada momento, e podemos compartilhar esse universo. Trocamos ideias e sonhos como moeda na Nova Economia.”
E os responsáveis por essa estúrdia ainda ameaçam fazer uma turnê pelo mundo apresentando… o que não existe!
Até que ponto o sistema capitalista é capaz de chegar: não satisfeito em transformar obras de arte em mercadoria agora é capaz até de transformar a nulidade, o não existente, o nonada em mercadoria! Isso nem Karl Marx seria capaz de prever! Este é o mundo dos espertos-expertos, de todo tipo de expertise possível! E para cada expertise, um/uma debilóide capaz de adquirir com cifras bem concretas a bobajada toda!
Mas isso também lembra o que Affonso Romano de Sant’Anna fala em seu livro “Desconstruir Duchamp”: a tal da arte contemporânea se aproxima do misticismo e da religião:
“Na religião há que ter fé. Em relação às obras contemporâneas, há que “acreditar” nas intenções do artista”.
Ou você, que não é capaz de se emocionar com tanta criatividade, vai queimar no fogo do inferno conceitual cheio de diabinhos conceituais!