sexta-feira, 11 de abril de 2014
segunda-feira, 7 de abril de 2014
Zurbarán, mestre da idade de ouro espanhola
"Santa Cacilda", 1635, óleo sobre tela, 171 x 107 cm |
"São Gabriel", 1631-1632 ost,146.5 x 61.5 cm |
A exposição faz um percurso cronológico da obra de Francisco de Zurbarán desde sua juventude em Sevilha até suas últimas pinturas realizadas em Madrid, mostrando como sua obra deu grande contribuição à história do Barroco espanhol. São 50 telas que vão de naturezas-mortas a grandes retratos de santos, dos quais quatro foram recentemente descobertos e seis foram restaurados há pouco tempo. É uma ocasião rara, dessas que não temos nunca aqui pelo Brasil, para se ver a obra de um dos grandes mestres espanhois, ao lado de Velázquez e Murillo.
A Contra-Reforma, movimento católico que se interpunha à Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero, impunha aos artistas a maneira como eles deveriam fazer sua pintura: “simples, diretas, exaltantes”. Era necessário trazer de volta a fé dos católicos que se via ameaçada pelas contestações da Reforma. Alguns padres diziam que era preciso representar Jesus e Maria com corpos perfeitos. Zurbarán foi obediente a estes ditames ao mesmo tempo em que expressava todo o seu prazer de pintar.
"Agnus Dei", 1635-1640, óleo sobre tela, 35x52cm |
"Frei Jeronimo Perez", 1632-34, ost, 193x122 cm |
Quando viveu em Sevilha, esta cidade contava com 53 conventos, que foram os grandes mecenas dos pintores. Em geral eram muito rígidos com relação à composição e à qualidade das obras que contratavam. Exigiam até que se não estivessem de acordo com o agrado dos religiosos, os quadros seriam devolvidos. Nessa época, padres e freiras espanhois estavam convencidos de que a beleza era um estimulante para a elevação da alma. Eram pessoas em geral cultas e eruditas com gostos bastante refinados para as obras de arte.
Zurbarán foi contemporâneo e amigo de Velázquez, e se inspirava muito nas pinturas de Caravaggio. Aos 29 anos já era considerado um mestre e era tratado como o “Caravaggio espanhol”. Conta-se que nas invasões napoleônicas na Espanha, muitos de seus quadros foram levados para a França. Sobre esse pintor tenebroso de fé atormentada, escreveu o poeta francês Théophile Gautier, em 1845:
“Monges de Zurbarán, brancos cartuchos que, na sombra
passais silenciosos sobre as lousas dos mortos
murmurando o “Pater” e as “Ave” sem nome
Que crime expiais para tanto tormento?
Fantasmas tonsurados, verdugos pálidos…
Para tratá-los assim que foi feito de teu corpo?”
"São Francisco de Assis fora da sepultura", 1635, óleo sobre tela, 205 x 113 cm |
"Copo de água com rosa", 1630, óleo sobre tela, 21 x 30cm |
"Taças e vasos", 1633, óleo sobre tela, 46x84 cm |
segunda-feira, 31 de março de 2014
Delacroix, o mais legítimo dos filhos de Shakespeare
Autorretrato de Eugène Delacroix como Hamlet. |
Junto com a celebração de 450 anos do nascimento de William Shakespeare, o Museu Delacroix, em Paris, expõe obras de Eugène Delacroix, numa mostra intitulada “Delacroix, o mais legítimo dos filhos de Shakespeare”. A exposição vai do dia 26 de março até 31 de julho de 2014.
“Selvagem contemplador da natureza humana”, segundo as palavas de Delacroix, Shakespeare teve um lugar particular na criação do artista. Por isso, o Museu Delacroix está apresentando pela primeira vez um conjunto de litogravuras da série “Hamlet”, assim como as pedras onde Delacroix desenhou seus originais.
"Hamlet e Horacio diante dos coveiros", litogravura de Delacroix |
Pintor culto, grande leitor de literatura, Eugène Delacroix também era um assíduo frequentador do teatro. Entre os anos 1820-1830, quando houve um renascimento da cena teatral em Paris, Delacroix, além de frequentar as peças, também passou a estudar as novas teorias que surgiam em relação ao papel do ator. Novas peças de Diderot foram encenadas. Em seu jornal, Delacroix não deixa de comparar as habilidades do ator com aquelas do pintor: “A execução na pintura deve sempre considerar a improvisação, e aqui está um ponto de convergência com o que faz um ator no teatro”.
Em setembro de 1827, o jovem Delacroix assiste a uma das representações da peça “Hamlet” no teatro Odeon, onde a célebre atriz inglesa Harriet Smithson fez o papel de Ophelia, e deixou o público francês impressionado com sua representação. Ele tinha acabado de chegar de uma viagem de Londres junto em visita a seus amigos pintores Thales e Newton Fielding.
A morte de Polonius, Ato III, Cena IV, litogravura de Delacroix |
O fascínio de Delacroix pela figura de Hamlet, um príncipe sensível e atormentado, foi profunda. Desde o começo dos anos 1830 ele tinha tido a ideia de consagrar a este personagem da peça de Shakespeare uma série de litogravuras, como o fez para ilustrar a tradução francesa do “Fausto” de Goethe em 1827.
Então o Museu Delacroix está trazendo ao público a oportunidade de ver de perto o conjunto de pedras litográficas desenhadas pelo artista, assim como as pranchas impressas por ele. Neste ano de 2014 se completam 450 anos do nascimento de William Shakespeare e esse museu celebra, desta forma, esta efeméride tão importante para o mundo do teatro e da literatura. As obras de Delacroix expostas desta vez raramente têm sido expostas.
"Romeu e Julieta no túmulo dos Capuleto", pintura de Delacroix |
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terça-feira, 25 de março de 2014
El Greco de Toledo
"Vista de Toledo", 1596-1600, Metropolitan Museum of Art, Nova York |
Neste ano de 2014, a arte espanhola rememora os 400 anos da morte de um de seus artistas mais importantes, dentre os muitos pintores espanhois: El Greco. Será feita na cidade de Toledo, Espanha, a maior exposição de sua obra em todos os tempos, com mais de 100 trabalhos de El Greco provenientes de mais de 29 cidades do mundo.
Um provável autorretrato de 1503 |
Sua formação pictórica foi bastante ampla. Desde as primeiras lições sobre a arte bizantina até a passagem dele por Veneza, onde conheceu a obra dos maiores mestres do Renascimento, em especial a de Tiziano. Em Veneza ele aprendeu a dominar a técnica da pintura a óleo e sua gama de cores. Depois, em Roma, conheceu a obra de Michelangelo. Sua obra, pode-se dizer assim, é o resumo da influência recebida nesses lugares, e que traz uma característica bastante pessoal, com suas figuras alongadas e suas cores densas.
El Greco compôs desde grandes quadros para os altares de igrejas, assim como pinturas para conventos e mosteiros, e também retratos, que são considerados como de alto nível. Na primeira fase de sua vida na Espanha, na pequenina cidade de Toledo, nota-se bastante a influência dos mestres italianos. Mas aos poucos, El Greco foi evoluindo para um estilo pessoal muito próprio: figuras delgadas e afinadas, uma iluminação intensa, figuras de grande expressão. Durante muito tempo sua obra foi esquecida e tratada como de “menor” qualidade, e ele mesmo tratado como um excêntrico, quase marginal na história da arte. Até que foi redescoberto no século XIX e ser hoje considerado como um dos grandes pintores do mundo.
Detalhe de "Cristo abraçado à cruz", 1580-85 |
A mostra, intitulada “El Greco de Toledo” terá como sede principal o Museu de Santa Cruz, mas se espalhará por vários lugares da cidadezinha, conhecidos como “Espaços Greco”: a sacristia da Catedral de Toledo, a Capela São José, o convento Santo Domingo el Antiguo, a Igreja de São Tomé e o Hospital Tavera. Todos esses lugares conservam as telas originais do pintor, permitindo que esta exposição tenha um caráter singular e irrepetível fora de Toledo.
A mostra vai percorrer a atividade de El Greco desde Candia, em Creta, passando por Roma e Veneza. Na parte que concerne à influência recebida dos pintores italianos, em especial Tiziano e Tintoretto, será dada ênfase ao tratamento dado à luz e à sombra.
Também mostrará seu trabalho como retratista, o único que lhe deu reconhecimento e fama daqueles que viveram em seu próprio tempo, mesmo que já se diferenciasse do tipo de retratos que eram pintados na Espanha dos tempos do rei Felipe II.
Mas a exposição também traz de diversos países e museus, as obras de El Greco que foram sendo adquiridas e levadas para fora da Espanha: Entre elas: Vista de Toledo (Nova York, EUA - The Metropolitan Museum of Art), São Martin e o mendigo (Washington, EUA - The National Gallery), Cristo na Cruz com dois ladrões (Paris, França - Museu do Louvre), São Lucas pintando a Virgem (Atenas, Grécia - Benaki Museum), A Adoração dos pastores (Roma, Itália - Galleria Nazionale d´Arte antica Palazzo Barberini), São Pedro e São Paulo (São Petersburgo, Rússia - The State Hermitage Museum) e o Retrato de um escultor (Genebra, Suiça - Coleção particular), entre outros.
"Cavalheiro com a mão no peito", cerca de 1580 |
El Greco morava numa casa que tinha sido emprestada a ele pelo Marquês de Villema. Na verdade, uma mansão enorme, que lhe dava muitos gastos na manutenção. Seu ateliê mantinha uma produção contínua e ele sempre recebia muitas encomendas, especialmente para decorar igrejas, conventos e palácios. Muitos retratos foram encomendados a ele. Seu filho, Jorge Manuel, era seu assistente e também pintor. Na mesma mansão moravam, além do pai e do filho, a mãe dele - Jerônima de las Cuevas - assim como diversos ajudantes de seus ateliê. A casa era frequentada por um grupo mais restrito de seus amigos e de eruditos e humanistas da cidade, professores da universidade de Toledo, muitos deles retratados por El Greco. Poucos deles eram ligados à nobreza.
"A fábula", cerca de 1600 |
“El Greco é, sem dúvida, um caso único de personalidade artística em contínua evolução, um imenso criador cuja profunda originalidade está presente em sua capacidade para absorver fórmulas e modelos de outros até convertê-los em ícones únicos e inesquecíveis.
Porém, além de conceber a Arte com letra maiúscula, a essência mesma da criação artística, Domenikos Theotokopoulos foi mestre de um ateliê complexo que precisava dar saída comercial a boa parte das encomendas de uma numerosa e heterogênea clientela, para fazer sua arte rentável.
A abertura de um ateliê estável na própria casa do pintor o obrigou a uma dinâmica criação pictórica complexa, da qual El Greco se ocupou pessoalmente das obras mais importantes, assim como fazer estudos para as composições mais solicitadas, intervendo na elaboração de réplicas e de cópias, participando em diversos graus do trabalho em seu ateliê.
Alem disso, teve que lutar para conseguir a autonomia que gozavam os artistas em Creta e na Itália, numa Espanha onde as práticas artísticas ainda estavam ligadas ao mundo artesanal, com restrições que sempre lhe chocavam.
Refletir e mostrar esse complexo sistema de criação artística, englobando as obras mais importantes de toda a produção do ateliê de El Greco, é o propósito desta mostra”.
Domenikos Theotokopoulos - El Greco - morreu em Toledo em 1614.
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Site com toda a programação de exposições na Espanha para 2014:
http://www.elgreco2014.com/
"A morte de Laocoonte", interpretação de El Greco com Toledo ao fundo, 1614 |
quinta-feira, 20 de março de 2014
Ateliê e Galeria Contraponto
Uma parte da obra de Maurício Takiguthi, exposta na Galeria Contraponto |
Raulex João e Maurício Takiguthi |
Juntamente com a inauguração da casa teve o vernissage de pinturas de Maurício Takiguthi, pintor realista de grande qualidade e considerado um dos maiores da pintura do momento no Brasil. Sua pintura se concentra em torno da figura humana, que é, segundo ele, uma escolha, por ser “muito mais desafiadora, pelo duplo desafio de representá-la no mais alto nível de exigência e de conseguir colocar na tela o meu olhar sobre ela. Gosto desse lugar de observador da condição humana e evidenciar o meu estranhamento diante das coisas. É seguramente o tema mais difícil. É o que me atrai”.
A exposição com as obras de Takiguthi fica aberta à visitação até o dia 25 de abril.
O ilustrador Eduardo Nunes observando uma das pinturas de Maurício Takiguthi |
Além de poderem ver de perto a obra de Maurício, que foi muito elogiada, as pessoas presentes também puderam conhecer de perto o espaço onde funciona o Ateliê Contraponto que oferecerá aulas de desenho, pintura e aquarela com os professores Mazé Leite, Marcia Agostini, Luiz Vilarinho e Alexandre Greghi.
As conversas, muito animadas, giraram em torno dos inúmeros aspectos da arte. Como música de fundo, o músico Tatá di Tao apresentou músicas da MPB como pano de fundo para os encontros felizes que aconteceram ontem.
Entre os inúmeros amigos presentes, destacamos os seguintes: o grande aquarelista chileno-brasileiro Gonzalo Cárcamo; o coordenador dos Urban Sketchers Brasil Eduardo Bajzec; os ilustradores Eduardo Nunes, João Pinheiro, Marcelo Dutra, Suzanne Cascardi e Diego Machuca; o coordenador da escola de arte Mundo Kinoene de São José dos Campos, Raulex João; o professor da Unicamp João Quartim de Moraes; o fotógrafo Carlos Moreira; a escultora e atriz Renata Andrade, entre outros.
O Ateliê Contraponto nasce com esta alegria e como um espaço aberto a todos os que queiram estudar arte, conversar sobre arte, traçar caminhos artísticos comuns, debater, conversar, crescer juntos.
Vídeo realizado por Cézar Xavier, da Fundação Maurício Grabois:
Vídeo realizado por Cézar Xavier, da Fundação Maurício Grabois:
Abaixo, fotos de alguns momentos da inauguração do Contraponto em São Paulo:
Amigos presentes |
André Bezerra, Mazé Leite, João Quartim de Moraes e Donizete Cunha |
Dilermando Toni apreciando a música de Tatá di Tao |
Vista noturna da vila onde fica o Ateliê Contraponto |
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